OITI e seus Beneficios




Oiti {Licania tomentosa (Benth.) Fritsch}

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       O oiti é uma planta bastante comum na arborização urbana Brasil afora, mas quase não prestamos atenção nele. No entanto, durante os meses de novembro a janeiro, período de frutificação, nota-se grande quantidade de frutos caídos, deixando o chão amarelinho.
         Foi este fato que chamou a atenção da professora Raquel Santiago, do departamento de Nutrição de Universidade Federal de Goiás, ao observar as ruas de Goiânia - GO. Então, será que esses frutos são comestíveis? Como podemos aproveitá-los? Que árvore é essa afinal?
        Assim, procurando responder em parte essas dúvidas, resolvi iniciar o ano escrevendo sobre esta planta, uma espécie nativa da flora brasileira com muito potencial de uso. E aproveitando, agradeço à Professora Raquel pela cessão de algumas imagens que ilustram esta publicação.       
Na primeira imagem observa-se a folha com 
o verso recoberto de pelos e na segunda, frutos 
ainda verdes. Fotos: J. Camillo.
Características botânicas: Espécie de porte arbóreo, pertencente à família botânica Chrysobalanaceae, quando adulta pode medir entre 9 a 12 metros, ou mais. Perenifólia. Com tronco ereto, cujo diâmetro pode variar de 30 a 65 cm, e cascas acinzentadas; copa densa e de formato globoso. As folhas são simples, alternas, de formato variando entre elíptico a oblongo e base acuminada; tomentosas (cobertas de pelos), com margens inteiras e nervura central destacada; a coloração varia entre amarelo claro quando jovens a verde escuro quando adultas. A inflorescência é do tipo racemosa, medindo entre 3 a 7 cm de comprimento, com verticilos que contém entre 4 e 5 flores pequenas, de cor creme ou branca. O fruto é uma drupa carnosa, elipsoide, odorífera, de coloração variando entre amarelo e alaranjado quando maduro, medindo entre 6 a 12 cm de comprimento e 3 a 5 cm de diâmetro. A polpa pode ter espessura entre 1 a 2,5 cm, pegajosa, com grande quantidade de fibras e envolve a semente, que corresponde a maior parte do fruto.
            O oiti também é conhecido pelos nomes populares de goiti, goiti-iba, manga-da-praia, milho-cozido, oiti-cagão, oiti-da-praia, oiticica, oitizeiro, entre outros. Também apresenta algumas sinonímias botânicas: Licania tomentosa var.angustifolia (Benth.) Cowan; Moquilea tomentosa Benth.; M. tomentosa var. angustifolia Hook.f.; M.tomentosa var. latifolia Hook.f. e Pleragina odorata Arruda.


Onde ocorre: A espécie é nativa e endêmica da flora brasileira, ou seja, ocorre apenas no 
Mapa da distribuição do Oiti (Licania tomentosa) no Brasil.
Fonte: Sothers et al. (2015). Link. 
Brasil. Ocorre nas regiões de Mata Atlântica e também em outras formações florestais, adaptando-se muito bem à regiões com temperatura mais elevada, como o Norte e Nordeste do Brasil.

Usos: O uso mais comum é na arborização urbana, pois sua copa densa proporciona boa sombra o ano todo. Pode ser encontrado com relativa facilidade ornamentando praças, parques, jardins e calçadas em diversos estados do Brasil. Em Goiânia e Brasília é planta bastante comum na arborização de ruas e avenidas, chamando atenção na época da frutificação pelos frutos dispersos no chão. Também pode ser empregada em reflorestamentos, recuperação de áreas degradadas ou como bioindicadora, esta qualidade atribuída à algumas alterações foliares que podem fornecer informações sobre a qualidade do ar em ambientes urbanos.
        O fruto é comestível, bastante odorífero, de sabor adocicado e um pouco adstringente. Alguns relatos informam que o fruto lembra o sabor da manga, mas para mim, a textura mais áspera e seca, lembra milho cozido. Possivelmente, esta também deve ser a razão pela qual a espécie é chamada popularmente de milho-cozido.
     Diversos relatos informam que o fruto deve ser consumido maduro, deixando-se descansar por pelo menos 4 a 5 dias após a colheita. O mais comum é consumi-lo in natura, mas também pode-se efetuar a extração da polpa, que depois será utilizada no preparo de vitaminas, sucos e sorvetes.
        A polpa do fruto maduro tem coloração alaranjada, bastante perfumada e com boa quantidade de amido, o que permite o seu aproveitamento para diversos fins industriais. A polpa desidratada pode ser utilizada como incremento de diversos produtos alimentícios.
Frutos de Oiti quando maduros. No detalhe (esquerda em baixo), o fruto cortado ao meio mostrando uma fina camada de endocarpo que envolve a semente, a polpa amarela e fibrosa. Fotos: Raquel Santiago.

     Estudos fitoquímicos demonstraram que as folhas e os frutos contém taninos, flavonoides, saponinas, alcaloides, esteroides e triterpenoides. Entre estas substancias, destacam-se o licanolide, lupeol, ácidos oleanolico, palmitoleico, hexadecanoico, tormentico, ursólico e betulínico, além de uma mistura de estigmasterol e sitosterol. Os frutos também são ricos em componentes voláteis e as folhas contém lectinas.
     Estudos farmacológicos indicam que a planta apresenta potencial viricida, antibacteriano, antioxidante e a polpa possui efeito laxativo. Outro importante estudo demonstrou, ação antitumoral atribuída a presença de triterpenos nas folhas e frutos e com isso, evidenciando o potencial da espécie para o tratamento da leucemia.

Uso na arborização urbana, a copa globosa e folhas perenes, 
conferem boa sombra durante o ano todo.
Foto: J. Camilo.
Aspectos agronômicos: Deve ser cultivada sob sol pleno e apresenta crescimento inicial relativamente rápido. Prefere solo fértil, bem drenado, profundo, enriquecido com matéria orgânica, pH entre 4,8 a 5,9 e irrigado regularmente no primeiro ano de implantação. Não tolera encharcamento por períodos prolongados e depois de completamente estabelecidas, as plantas mostram-se resistentes à estiagem. Desenvolve-se melhor em clima ameno a quente, pois em locais de frio subtropical ou temperado, sofre danos com as geadas e raramente frutifica.
            A propagação pode ser feita por sementes, sendo estas obtidas de frutos maduros, recém colhidos, despolpados e secos à sombra. Não se recomenda o armazenamento das sementes por período maior que 40 dias, no entanto pouco se sabe sobre o assunto e a realização de experimentos é fundamental para avaliar as condições ideais de conservação. As sementes devem ser plantadas individualmente em sacos plásticos próprios para este fim, contendo substrato composto por areia, terra vermelha de barranco e esterco bem curtido na proporção de 30:40:30 (%), respectivamente. A germinação é bastante variável, podendo ocorrer entre 10 a 60 dias após o plantio e as mudas estarão prontas para o plantio definitivo entre 6 a 8 meses após a germinação. Maiores informações sobre plantio e substrato podem ser obtidos em Alves & Passoni (1997).
            Alguns cuidados adicionais devem ser tomados quanto a produção de mudas, pois a espécie é suscetível à ferrugem (Phakopsora tomentosae), conforme descrito por Ferreira et al. (2001).
            A propagação por estaquia também pode ser um método viável e bastante eficiente, uma vez que uniformiza as mudas e permite a seleção de matrizes de alta qualidade para o objetivo desejado. No entanto, o método carece de estudos que demonstrem sua eficiência para esta espécie, bem como a melhor maneira de efetuar a extração dos explantes.
            Quanto aos tratos culturais, as plantas são pouco exigentes em cuidados para sua manutenção. Recomenda-se que o plantio seja realizado em covas com dimensões de 50 cm de largura, profundidade e altura. Deve-se separar uma parte do solo retirado da cova e misturar com esterco curtido, 0,2 kg de calcário e 1 kg de cinzas, deixar curtir por 2 meses antes de efetuar o plantio da muda. Adubações complementares, após o plantio até o 4º ano, podem ser feitas com composto orgânico elaborado a partir de folhas e esterco de gado curtido, na proporção de 1:1, adicionado de 40 gramas de NPK 10-10-10.    Lembrando que a adubação não deve ser feita diretamente no tronco da árvore, mas efetuar a distribuição do adubo em círculos distanciados à 30 cm do tronco e a uma profundidade de 5 a 10 cm.
 
Árvores de Oiti ornamentando as ruas de Sobradinho-DF. Foto: J. Camillo.
Referências Bibliográficas

ALVES, W.L.; PASSONI, A.A. Composto e vermicomposto de lixo urbano na produção de mudas de oiti (Licania tomentosa (Benth) para arborização. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 32(10), 1053-1058, 1997.
CASTILHO, R.O.; ANDMARIA, A.C. Volatile components of oiti fruit (Licania tomentosaBenth.). Records of Natural Products, 4(4), 238-241, 2010.
CASTILHO, R.O.; KAPLAN, M.A.C. Chemical constituents of Licania tomentosa Benth. (Chrysobalanaceae). Química Nova, 31(1), 66-69, 2008.
FERNANDES, J. et al. Pentacyclic triterpenes from Chrysobalanaceae species: cytotoxicity on multidrug resistant and sensitive leukemia cell lines. Cancer letters, 190(2), 165-169, 2003.
FERREIRA, F. et al. Uma ferrugem causada por Phakopsora tomentosae sp. nov., em OITI, em Manaus. Fitopatologia Brasileira, 26(2), 206-208, 2001.
GOITI-IBA. Colecionando Frutas. Disponível em Link. 2015.
MAIOLI, O.L.G. et al. Parâmetros bioquímicos foliares das espécies Licania tomentosa (benth.) eBauhinia forficata (link.) para avaliação da qualidade do ar. 2008.
MIRANDA, M.M.F.S. et al. Anti-herpes simplex virus effect of a seed extract from the tropical plantLicania tomentosa (Benth.) Fritsch (Chrysobalanaceae). Phytomedicine, 9(7), 641-645, 2002.
OLIVEIRA, K.L.M. et al. Caracterização morfológica de frutos, de sementes e do desenvolvimento pós-seminal de Licania tomentosa (Benth.) Fritsch. Ciência Rural, 42(1), 2012.
PATRO, R. Oiti – Licania tomentosa. Jardineiro.net. Disponível em: Link. 2015.
SILVA, J.B.N.F. et al. Antibacterial and antioxidant activities of Licania tomentosa (Benth.) fritsch (Crhysobalanaceae). Archives of Biological Sciences, 64(2), 459-464, 2012.
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SOTHERS, C. et al. Chrysobalanaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: Link. Acesso em: 01 Jan. 2015.
SOUSA, F.C. et al. Modelagem matemática para descrição da cinética de secagem de polpa de oiti. Revista Educação Agrícola Superior, 26(2), 108-112, 2011.


 Fonte:http://www.aplantadavez.com.br/2015/01/oiti-licania-tomentosa-benth-fritsch.html




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