UFN3 Sonho trêslagoenses que os russos poderão, enfim, reiniciar as obras


UFN3 - A Cronologia de uma Novela sem fim
Construção daquela que seria a maior usina de fertilizantes do mundo teve capítulos dignos de folhetim, com momentos de empolgação, drama, suspense e tristeza; acompanhe a cronologia e veja como está, hoje, a antiga construção da UFN3

Gisele Berto
O complexo industrial da UFN3 está com a obra parada desde dezembro de 2014, porém com a decisão do STF o cronograma pode ser restabelecido ainda neste ano (Foto: Ricardo Ojeda)
Algumas imagens da UFN3 que ilustram essa matéria foram registradas na sexta-feira, dia 7 de junho e mostram algumas peças da unidade deterioradas pela ação do tempo (Foto: Ricardo Ojeda)

 
Quando as obras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados 3 – UFN3 – começaram em Três Lagoas, em setembro de 2011, o momento era de euforia.

A cidade vivia o apogeu das grandes obras, com a construção do Projeto Horizonte, da então VCP – que depois virou Fibria (hoje, Suzano), e as obras da Eldorado Celulose.

Um batalhão de operários veio à cidade do pleno emprego que, sem mão de obra, importava gente de todo o país.

Nesse cenário, mais de sete mil homens trabalhavam, com orgulho, nas obras da Usina da Petrobras.
A EMPOLGAÇÃO INICIAL

As obras da UFN3 começaram em setembro de 2011. O Consórcio UFN3 era composto pela Galvão Engenharia e pelos chineses da Synopec.

Com a força do nome da estatal por trás do projeto, a cidade e o país confiaram na UFN3. Dessa forma, empresários, comerciantes e fornecedores de serviço de Três Lagoas abriram os braços para a Petrobras, entregando ao Consórcio tudo o que era pedido.

Afinal, quem imaginaria que tomaria calote da gigante Petrobras? A dívida do Consórcio com os empresários da cidade chegou a mais R$ 20 milhões – que eles nunca receberiam.
Durante a construção do empreendimento a obra teve várias paralisações (Foto: Arquivo/Ricardo Ojeda)

O COMEÇO DAS GREVES – E O INÍCIO DO FIM

Os primeiros dias de 2013 já anunciavam problemas com as obras da Unidade de Fertilizantes. A partir de janeiro uma série de greves paralisou as obras. Os funcionários alegavam que não recebiam seus salários e benefícios.

A primeira greve durou 10 dias. No entanto, menos de seis meses depois, uma nova paralisação, desta vez maciça e tumultuada, parou as obras da Unidade por quase um mês por melhoria de salários.

O pesadelo começou, de verdade, no ano seguinte. Em dezembro de 2014, a Petrobrás anunciou a rescisão do contrato com o Consórcio UFN3. Isso significava o fim das obras e o Deus-nos-acuda no canteiro de obras.
Na galeria abaixo as fotos da greve que durou quase um mês, causando vários prejuízos aos Consórcio, além de veículos incendiados



Um exército de homens e mulheres, desesperados por não receber seus salários e direitos trabalhistas, fechou a rodovia, colocou fogo em veículos, incendiou parte do alojamento e invadiu a cidade, em busca de alguém que os ajudasse.

O sindicato Sintiespav comprou a briga e a Juíza do Trabalho, Dra. Daniela Peruca, agiu rápido, pedindo o bloqueio de R$ 50 milhões, para o pagamento dos direitos de mais de 2.500 pessoas.

Às vésperas do Natal de 2014, um batalhão de pessoas foi às filas do Santander e da Caixa Econômica Federal para sacar seu dinheiro.

A novela, então, já tinha virado tragédia – com um exército de pessoas desempregadas, milhões de reais em calote no comércio local e futuro indefinido.
O video abaixo foi registrado na sexta-feira, dia 7 de junho e mostra todo o complexo da unidade de fertilizante inacaba e sofrendo as ações do tempo



O FUTURO

Em 2017, a Petrobrás anunciou, oficialmente, que estaria iniciando o processo para vender a UFN3. A empresa, cujas obras nunca terminaram, fazia parte do pacote de desinvestimentos da companhia.

Em 2018, os russos da Acron venceram a licitação pela retomada das obras. Eles investiriam mais de R$ 2 bilhões na compra e arcariam com a dívida de R$ 38 milhões que a empresa ainda tinha com 178 fornecedores e alguns funcionários.

O momento era o oposto àquele do início das obras: ao invés da empolgação e do pleno emprego, o país vivia a recessão e o desemprego atingia números alarmantes. Assim, com o anúncio da venda da planta, a cidade e o Estado voltaram a respirar ares de esperança de mais empregos e renda para os moradores de Três Lagoas.
PLOT TWIST

Entretanto, uma liminar provisória proposta pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski em junho de 2018 jogou um balde de água fria nas expectativas, ao determinar que a subsidiárias de estatais não poderiam ser vendidas sem o aval do Congresso.

Mais uma vez, a situação se complicara, não apenas para a UFN, mas também para a TAG – Transportadora Associada de Gás (TAG), e a Araucária Nitrogenados, a ANSA.

Não bastasse isso, em maio deste ano mais uma ação, desta vez proposta pela Justiça Federal do Rio de Janeiro, impedia a venda da UFN3.
Dos 11 ministros do STF, apenas Ricardo Lewandowski, Edson Fachin e Rosa Weber votaram a favor da venda das subsidiárias passarem pelo Congresso (Foto: Assessoria STF)

ATO FINAL

A votação da liminar proposta por Lewandowski no ano passado aconteceu ontem, 6, no Supremo Tribunal Federal.

Por ampla maioria, os Ministros decidiram que a Petrobrás pode, sim, vender suas subsidiárias mediante licitação. Apenas a empresa-mãe – no caso, a própria Petrobrás – precisaria de aprovação do Congresso para ser vendida.

Dos 11 ministros do STF, apenas Ricardo Lewandowski, Edson Fachin e Rosa Weber votaram a favor da venda das subsidiárias passarem pelo Congresso. De outro lado, Alexandre de Moraes, Luis Roberto Barroso, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Dias Toffoli entenderam que não era necessária a aprovação do Congresso para a venda de subsidiárias.

Com isso, define-se a venda da UFN3 aos russos que poderão, enfim, reiniciar as obras.

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